Uma Carta de 1976
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Póvoa de Varzim,11 de Abril de 1976
Director da Voz do Desalojado
Sou angolano, filho de pais portugueses, e tenho dezassete anos o
último dos quais passei e passo aqui neste quase exílio forçado.Como vês
sou tão novo, tão novo como tantos outros que carregam armas às costas,
tão novo como aqueles que se drogam,tão novo como muitos irmãos meus e
teus que fruto de uma descolonização neocolonizadora foram atirados para
o cesto de Portugal onde assim como eu apodrecem no dia a dia e choram o
tempo passado...mas no fundo depois dos tormentos e das calcinações de
uma guerra injusta -como o são todas as guerras—ainda sabemos amar e
perdoar. Mas perdoar não é deixar de fazer Justiça.Pelo menos assim
penso eu.Perdoar para mim é fazer justiça a alguém , no entanto não
executando vinganças.
Eu gostaria que tu, eu e todos os que cá
estamos e que os que lá ainda estão, nas matas ou nas cidades, aqueles
que sempre forame ainda o são, estou certo, nossos amigos, eu gostaria
que um dia nos juntássemos em exemplo ao mundo que a guerra não compensa
e que a Fraternidade Humana vale tanto e até mais do que as vidas que
se perdem pelo mundo fora vitimas das balas assassinas dos seguidores
bélicos de Hitler.
Tal como eu tu sabes como é a Guerra ou
melhor sabes qual é o carimbo que ela grava nas sociedades humanas onde
se germina.
Mas sabes o que é uma criança protestar contra a injustiça humana?
Podes ter a certeza amigo de que um dia o mundo será melhor.
Desculpa-me a “massada” que te dei ao veres esta carta mas eu tinha que gritar e gritei!
Mas também sei que os surdos não ouvem.
Au revoir Irmão
A Verdade Vencerá
renato gomes pereira