GUERRA E MORTE
GUERRA E MORTE
Agradecemos aqui a amabilidade de António Torres da Silva e do conhecidíssimo Tipografo TIR " Zé de Calves " que nos cederam e explicaram sobre um original e a oportunidade de reprodução com caracter lúdico cultural de excertos do Semanário Independente o Poveiro relacionados com a Força Poveira -PSN Manuel Agonia e a Camisola Poveira.também os nossos agradecimentos ao Café Anjo, em Argivai onde a "Maçonaria Local"e os "Confrades" se reúnem
Vemos por aqui que é antiga a Luta dos Poveiros em prol das suas tradições, em especial a Camisola Poveira
VIVER POETA Não escrever. Não dizer, sim, ser poeta No dia a dia da vida SER POETA Na poesia da vida, ser poeta; Luz, Sombra, Arte, Sangue Suor, Obra, dum poeta Ninguém pode vender ou comprar a Vida A arte não é publicável ou negociável O poeta não faz, não transforma, não executa, não muda, nem cria O poeta permanece sempre poeta, põe e não dispõe da poesia. A noite, a lua, o sol, a chuva a terra, o mar, a morte, o podre são do poeta a força e a fraqueza. Renato Gomes Pereira Porto, 18-10-2018 |
91. O CALDO DE PEDRA
Um frade andava ao peditorio; chegou á porta de um lavrador, mas não lhe quizeram ahi dar nada. O frade estava a cahir com fome, e disse:
— Vou vêr se faço um caldinho de pedra. E pegou n’uma pedra do chão, sacudiu-lhe a terra e pôz-se a olhar para ella para vêr se era boa para fazer um caldo. A gente da casa pôz-se a rir do frade, e d’aquella lembrança. Diz o frade:
— Então nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que é uma coisa muito boa.
Responderam-lhe:
— Sempre queremos vêr isso.
Foi o que o frade quiz ouvir. Depois de ter lavado a pedra, disse:
— Se me em prestassem ahi um pucarinho.
Deram-lhe uma panella de barro. Elle encheu-a de agua e deitou-lhe a pedra dentro.
— Agora se me deixassem estar a panellinha ahi ao pé das brazas.
Deixaram. Assim que a panella começou a chiar, disse elle:
— Com um bocadinho de unto é que o caldo ficava de primor.
Foram-lhe buscar um pedaço de unto. Ferveu, ferveu, e a gente da casa pasmada para o que via. Diz o frade, provando o caldo:
— Está um bocadinho insonso; bem precisa de uma pedrinha de sal.
Tambem lhe deram o sal. Temperou, provou, e disse:
— Agora é que com uns olhinhos de couve ficava, que os anjos o comeriam.
A dona da casa foi á horta e trouxe-lhe duas couves tenras. O frade limpou-as, e ripou-as com os dedos deitando as folhas na panella.
Quando os olhos já estavam aferventados disse o frade:
— Ai , um naquinho de chouriço é que lhe dava uma graça…
Trouxeram-lhe um pedaço de chouriço; elle botou-o á panella, e emquanto se cosia, tirou do alforge pão, e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava que era um regalo. Comeu e lambeu o beiço; depois de despejada a panella ficou a pedra no fundo; a gente da casa, que estava com os olhos n’elle, perguntou-lhe:
— Oh senhor frade, então a pedra?
Respondeu o frade:
— A pedra lavo-a e levo-a commigo para outra vez.
E assim comeu onde não lhe queriam dar nada.
In Teofilo Braga – “Contos Tradicionais Portugueses”
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